Rita Lee: como a jovem irreverente se tornou a rainha do rock
A doce erva venenosa Rita Lee deixa uma carreira de rebeldia e sabedoria após sua morte, no final da noite da última segunda-feira (8), aos 75 anos. Natural da capital paulista, a artista morreu em decorrência de um câncer no pulmão que tratava há dois anos.
Mas seu legado artístico fascinante permanece para a memória e história do Brasil como uma das cantoras e compositoras mais populares e excêntricas das últimas décadas — uma legítima disruptora no cenário musical e na cultura artística brasileira.
A seguir, relembre uma linha do tempo com a vida e obra da rainha do roquenrou.
1947
Nasce Rita Lee Jones de Carvalho, em 31 de dezembro. É a filha mais nova do dentista Charles Fenley Jones (1904-1983); descendente de imigrantes norte-americanos, e de Romilda Padula (1904-1986), filha de imigrantes italianos.
Suas irmãs mais velhas são Mary Lee Jones e Virginia Lee Jones. O nome “Lee” é uma homenagem do pai ao general Robert E. Lee, do exército confederado dos EUA.
Infância
A relação com a música começou desde cedo, quando teve aulas de piano com a musicista clássica Magdalena Tagliaferro. Suas primeiras influências foram Beatles, Rolling Stones, Elvis Presley, Cauby Peixoto, Carmen Miranda e Maysa.
1963
Aos 16 anos, forma o conjunto musical Teenage Singers, com outras duas amigas. Juntas, faziam pequenos shows em festas colegiais.
1964
Conhece o trio masculino Wooden Faces, com quem faz sua primeira gravação: vocais para o álbum de Prini Lorez. Os dois grupos se fundem, formando o Six Sided Rockers, que depois passaria a se chamar “Os Seis”.
1966
Com a saída de três membros, sobram Rita, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. O grupo, então, passa a se chamar “Os Mutantes”, por sugestão do músico Ronnie Von. Com eles, a artista foi cantora, flautista e percussionista, além de compositora.
1967
Os Mutantes acompanham Gilberto Gil no 3º Festival de Música Popular Brasileira, na apresentação de “Domingo no parque”, um dos mais importantes e representativos festivais do Brasil, que lançou as bases para o Tropicalismo.
Neste ano, entra no curso de Comunicação Social da USP (Universidade de São Paulo), mas abandona a graduação um ano depois.
1968
Com os Mutantes, Rita lança o disco “Panis et Circencis” ao lado de Caetano Veloso, Tom Zé, Gal Costa, Gilberto Gil e Nara Leão. O álbum inaugurou o Tropicalismo, movimento que mistura manifestações tradicionais brasileiras com estéticas da cultura pop nacional e estrangeira.
O disco reúne clássicos como “A Minha Menina”, “Ando Meio Desligado” e “Dom Quixote”. Nesse ano, Rita se casa com o companheiro de banda, Arnaldo Baptista.
1970
Ainda junto com Os Mutantes, Rita grava seu primeiro disco solo: “Build Up”. O álbum traz composições feitas em parceria com Arnaldo Baptista, seu então marido.
1972
A artista lança seu segundo disco solo, “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida”. Saiu com o próprio nome da cantora, pois Os Mutantes tinham acabado de lançar “Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets” e a gravadora não permitiu que lançassem outro na sequência.
1972
Rita Lee e Arnaldo Antunes terminam o relacionamento e a cantora sai de Os Mutantes. Em 2007, o artista admitiu que “mandou a Rita embora”. Ambos se tornaram persona non grata um do outro, mas continuam casados no papel.
1973
Com a amiga Lúcia Turnbull, forma a banda Tutti Frutti com Luis Sérgio Carlini e Lee Marcucci. Ao assinar o contrato, a gravadora Philips exige que o nome da banda seja Rita Lee & Tutti Frutti.
O primeiro disco do grupo não é lançado por problemas com a censura e por ser “alternativo demais”.
1974
Enfim, sai o primeiro disco: “Atrás do Porto Tem uma Cidade”.
1975
A Som Livre lança “Fruto Proibido”, disco que leva sucessos como “Agora Só Falta Você” e “Ovelha Negra”.
1976
Em uma época de alta produção criativa, Rita lança “Entradas e Bandeiras”, com singles como “Coisas da Vida” e “Com a Boca no Mundo”, além de “Bruxa Amarela”, composta por Raul Seixas e Paulo Coelho.
No mesmo ano, conhece o músico carioca Roberto de Carvalho, com quem inicia uma parceria musical e romântica que seguiu até o último dia de sua vida.
Em plena ditadura, foi condenada à prisão após uma batida em sua casa, na Vila Mariana, em São Paulo. Os policiais disseram ter encontrado 300 gramas de maconha em sua casa. Ela sempre garantiu que a droga não era sua: tinha parado de fumar porque estava grávida.
Ficou oito dias presa no Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) até receber a condenação de que ficaria reclusa em prisão domiciliar por um ano.
1977
Dá a luz ao seu primeiro filho, Beto Lee. Se divorcia oficialmente de Arnaldo Baptista.
1978
Lança “Babilônia”, com singles como “Jardins da Babilônia”, “Agora é Moda” e “Miss Brasil 2000”. Depois do lançamento, o grupo se desfaz por incompatibilidades artísticas e de relacionamento.
1979
Nasce João, seu segundo filho. Também começa uma fase pop de Rita com Roberto: os dois começam a gravar músicas que depois se tornariam temas de novelas da Rede Globo. Alguns exemplos deste ano são “Mania de Você”, “Chega Mais” e “Doce Vampiro”.
1980
A artista lança “Rita Lee”, mais conhecido pelo hit Lança Perfume. Outros sucessos incluem “Baila Comigo”, “Orra Meu” e “Bem-me-quer”.
1981
Nasce Antônio, seu terceiro e último filho. Ao lado de Roberto, lança “Saúde”, com singles como “Saúde”, “Banho de Espuma” e “Mutante”.
1982
Lança “Rita Lee e Roberto de Carvalho” com sucessos conhecidos até hoje como “Flagra” e “Cor de Rosa Choque”.
1991
Depois de muitos sucessos feitos ao lado do marido, a dupla decide separar-se temporariamente em termos profissionais. Aí, então, Rita Lee começa sua bem-sucedida turnê voz e violão Bossa ‘n Roll.
1996
Depois de 20 anos de união, Rita e Roberto se casam em uma cerimônia civil. É só então que a artista passa a assinar como Rita Lee Jones de Carvalho.
1998
Lança seu Acústico MTV. Gravação tem participação de Cássia Eller (“Luz del Fuego”), Paula Toller (“Desculpe o Auê”), Titãs (“Papai me Empresta o Carro”) e Milton Nascimento (“Mania de Você”).
2000
Na virada do milênio, Rita lançou “3001”, com faixas escritas com Tom Zé e Itamar Assumpção. Os sucessos incluem “Erva Venenosa”, “Pagu” e “O Amor em Pedaços”.
2008
A revista Rolling Stone coloca a cantora na Lista dos 100 Maiores Artistas da Música Brasileira. Rita ocupa o 15º lugar.
2012
Depois de 40 anos na estrada, Rita anuncia sua aposentadoria. Ela diz que sua fragilidade física é o principal motivo. “Me aposento dos shows, mas da música nunca”, escreveu no Twitter.
2016
Os primeiros passos, o nascimento dos filhos, a produção das músicas, os tropeços e as glórias de uma das artistas mais relevantes da música brasileira.
“Rita Lee: uma autobiografia” está disponível: https://t.co/XbHyC3Jmne pic.twitter.com/izNdfTGZaI
— Sem Spoiler (@semspoiler_) June 17, 2020
Lança o livro “Rita Lee: uma Autobiografia” (Globo Livros), onde relata episódios desconhecidos de sua vida. Um exemplo é o abuso sexual que sofreu na infância e relação conturbada com Arnaldo Baptista.
2021
Lança “Change”, canção em parceria com Roberto de Carvalho e Gui Boratto. É a primeira música inédita em oito anos. A faixa entrou na trilha sonora da novela “Um lugar ao Sol”. No mesmo ano, a cantora recebeu o diagnóstico de um tumor no pulmão esquerdo.
2023
Em abril, anunciou que estava curada da doença após diversas sessões de quimioterapia. Ela preferiu não comemorar: disse que sabe que o tratamento, mesmo após a cura, exige prudência. Por isso, continuou com a rotina reclusa em casa.
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